16 de nov. de 2010

Relato da Travessia Segredo Couros


Local: Serra da Boa Vista, Chapada dos Veadeiros
Município: Alto Paraíso
Estado: Goiás
Contatos: Fazenda da Cachoeira do Segredo
Data da visita: 08/10/2010 a 12/10/2010
Como chegamos: BR 020 – BR 010 até Alto Paraíso – GO 239 até São Jorge –GO 239 por 11km até a entrada da fazenda da cachoeira do Segredo - mais 3km de acesso até o estacionamento da fazenda
Distância percorrida: Avaliamos em 33 km a distância da Travessia, mas de fato caminhamos 43 km medidos pelo GPS, descontados os deslocamentos laterais para observação.
Elevação: No computo de todas as subidas que enfrentamos, a caminhada acumulou no total 1.600 m de aclive (desnível).
Abaixo a Foto de satélite com a Rota prevista em amarelo e o trajeto que realizamos em vermelho.



O que visitamos: Cachoeira do Segredo por baixo e por cima, Serra da Boa Vista, Cânion do Ribeirão Lajeado, Cânion do Rio dos Couros, Cataratas dos Couros.

Relato: Saímos de Brasília, sexta-feira (08/10) por volta das 19:30 rumo à Fazenda da Cachoeira do Segredo, Município de Alto Paraíso de Goiás, em Van alugada. Chegamos à fazenda pouco depois da meia-noite, armamos as 5 barracas próximas ao estacionamento, para não acordar os moradores. Pela manhã, o vaqueiro veio nos visitar, foi quando pagamos o ingresso (R$15,00 cada), informamos o que iríamos fazer e pegamos dicas.
No primeiro dia, sábado (09/10), iniciamos a caminhada por volta das 9:30 da manhã, depois de uma pequena chuva. Paramos para nos alimentar e iniciamos o percurso: plano, atravessamos inicialemente o Rio São Miguel e seguimos margeando o Rio do Segredo. Nesse caminho já identificamos a trilha da subida que leva à parte de cima da cachoeira. Fica 1km antes da cachoeira, ao lado direito da trilha, subindo por uma crista bem ingrime ao lado de uma grota (dificuldade elevada).

Café da manhã no Rio São Miguel



Uma das várias travessias do Rio do Segredo


Vista do trecho final da trilha até a Cacheira do Segredo no vale ao fundo


Antes de chegarmos à cachoeira, encontramos o filho do dono da fazenda que nos ensinou a trilha na direção das cataratas passando ao sul dos Cânions, justamente o que não queríamos fazer. Nosso objetivo era passar em linha reta fazendo um trajeto ainda não relatado - e que descobrimos ser surpreendentemente LINDO. Durante o banho na cachoeira começou a chover o que nos atrasou um pouco. Saímos da cachoeira por volta das 15h, subimos a trilha com dificuldade pois as mochilas estavam pesadas e seguimos à esquerda pela trilha que leva, provavelmente, ao vale da lua, acompanhando o Rio do Segredo até onde foi possível observar.
Vegetação próxima à Cachoeira
Cachoeira do Segredo

A vegetação estava bastante queimada, não havia água com facilidade e a que encontramos estava turva, com muito resíduo produzido pelas queimadas. Este trecho da trilha estava muito irregular, várias vezes ela sumia e ficávamos um pouco perdidos, porém seguíamos paralelos ao rio que ficava à nossa esquerda.
Subida para a parte alta do Rio do Segredo


Chegamos à margem do Rio, na parte de cima da Cacheira por volta das 17h, armamos acampamento próximo e planejamos a rota de fuga caso o rio subisse mais de 2 metros (o que parecia impossível). Percebemos que durante as últimas 2 horas ouve tromba d´água e o rio subiu um pouco. Banhamos, fizemos nossas refeições, conversamos um pouco e nos recolhemos para descansar. Detalhe surpreendente: no alto da cachoeira, tem sinal para telefone móvel.
A noite foi tranqüila, sem chuva. Pela manhã, domingo (10/10), pegamos água turva do rio para beber por precaução, porém não muita, pois achávamos que logo encontraríamos outras fontes d'água. Foi essa pouca água turva que nos salvou a vida. Não sabíamos exatamente o que iríamos encontrar, pois, apesar de todo traçado via google e GPS, ninguém havia feito isso antes. Sem dúvida esse foi o dia mais tenso da travessia.
2º Acampamento - Rio do Segredo

Subida de uma dos trechos da Serra da Boa Vista

Orlando verificou a trilha cruzando o rio e logo a descartou pois, apesar de bem marcada, seguia em direção ao vale da lua. Retornamos talvez 1km e entramos à esquerda saindo da trilha e seguindo o rumo do Cânion do Ribeirão Lajeado. A vegetação queimada facilitou bastante tanto o deslocamento quanto a visibilidade. Fizemos o trajeto evitando inclinações acentuadas o que nos fez contornar alguns vales escarpados passando próximo às cabeceiras. Assim seguimos às linhas traçadas pelo Google Earth, que seguíamos pelo GPS. Entre acordos e desacordos pelo caminho a seguir, traçamos um caminho que não precisávamos fazer, o calor estava escaldante, a mata seca, escassez de água alimentava o mal estar, foram horas de sacrifício até conseguirmos encontrar um pequeno brejo, a água estava com muito carvão proveniente das queimadas, mas logo encontramos águas mais limpas e bebemos até saciar a sede. Descansamos por volta de uma hora enquanto uma tempestade se aproximava.
Decidimos continuar caminhando, na esperança de que a tempestade não nos alcançasse, doce ilusão, poucos minutos depois, estávamos dentro da tempestade com raios a menos de 2 km de nós. Fizemos um bivaque próximo a uma encosta por segurança. A chuva foi forte com muitos raios e muito granizo (do tamanho de ovos de lagartixa). Uns 40 minutos depois a tempestade passou, estava tudo alagado, o riozinho que antes estava seco agora estava intrasponível.
Depois da Chuva, continuamos a trilhar, faltando 2 horas para o pôr-do-sol, tivemos que apertar o passo para encontrar um bom lugar para armar o 3º acampamento. Depois de atravessarmos um caminho escolhido ali, na hora, encontramos uma pequena cachoeira que se formou com a chuva e nos deixou aliviados para continuar caminhando, com a certeza que não morreríamos de sede. Fomos até à beira do Cânion 1, uma vista maravilhosa, paredões enormes com mais de 200m, local remoto, bonito e selvagem, vegetação alta e de difícil acesso. Traçamos um novo caminho e seguimos. Pra nossa sorte, encontramos a trilha que segue do Vale da Lua ao rio dos Couros - nosso objetivo final.
Techo na parte alta da Serra da Boa Vista


Cânion do Ribeirão Lajeado

Dormimos no alto da Serra da Boa Vistaem um local pedregoso. Após um jantar descontraído nos recolhemos e durante a noite choveu muito, com rajadas de ventos, raios e trovões que dificultaram o descanso, porém todos acordaram com disposição para a aventura final.
Pela manhã, segunda-feira (11/10), com 1 hora de caminhada, já avistamos a cachoeira da entrada do Cânion dos Couros ao longe. Serpenteamos morros de acordo com a trilha marcada até um gerais largo ao lado do Alto da Serra da Boa Vista onde a trilha seguia um rumo diferente do nosso. Então seguimos o traçado do GPS, sempre tendendo à direita no sentido do contorno do Cânion do Ribeirão Lajeado.


Cachoeirinha secreta

Tomamos um bom banho em um poço do rio afluente do Ribeirão Lajeado. Daí em diante seguimos por trechos onde há trilhas bem definidas e por locais onde tivemos que caminhar no faro e pelo GPS. Logo de cara entramos no Charco (esse trecho havia sido identificado por nós nas pesquisas, mas não fazia parte dos planos cruzá-lo). Caminhamos um pouco mais e logo chegamos a uma mata nativa, primária com muitas marcas de Antas. Numa sombra agradável, fizemos uma pausa para almoço.


Trecho de mata ciliar

Cataratas dos Couros

Chegamos às cataratas pouco antes das 17h, uma visão deslumbrante. Armamos as barracas na margem direita do rio, que estava cheio porém balneável. Noite tranquila, sem chuva, porém fria.

Varal da última noite

Pela manhã, terça-feira (12/10), desarmamos as barracas e o grupo se dividiu: Fernanda, Márcia, Luíza e Afonso (que tinha torcido o pé) ficaram aproveitando as quedas das cataratas e serviram de apoio para guardar as mochilas. Enquanto Bernhar, João e Orlando foram até o Cânion dos Couros e caminharam até a última cachoeira alcançável – outra maravilhosa visão.

Travessia do Rio dos Couros

Cachoeira do Rio dos Couros

Reunidos novamente, seguimos 20 minutos até o estacionamento, ponto marcado para o resgate pela van. Chegamos exatamente no horário marcado (14h), porém o motorista se perdeu e chegou quase 1h depois do combinado. Ficamos um pouco apreensivos, pois caso ele não conseguisse chegar teríamos que seguir a pé até a pista (uns 10km dali) e depois conseguir carona – não seria uma tarefa fácil. Felizmente a van chegou e seguimos direto para Sobradinho onde havíamos deixado os carros, chegamos por volta das 18h.

A espera da Van de transporte para retornar a Brasília

Ainda extasiados com tudo que vivemos, fechamos a travessia num bar na Asa Norte e nos despedimos já pensando na próxima programação.

O que levamos: tudo de acampamento, inclusive GPS, mapas, bússola, lonas para chuva, pazinha para cocô.

Tempo de caminhada: em média 8 horas por dia com vários intervalos para água, banho, lanche, fotos, mirante, etc.

Grau de dificuldade: muito difícil, não recomendada a replicação sem guia. É necessário muito preparo físico.

Valor do ingresso: R$ 15,00

Necessidade de guia: SIM. Precisa de guia mesmo se for somente até a cachoeira do Segredo, apesar a placa que indica "trilha auto guiável" e de algumas placas indicativas pelo trajeto.

Participantes: Bernhar, Cleber Afonso, Fernanda, João Carlos, Luíza, Marcia e Orlando

Dicas: NÃO SUGERIMOS REPLICAR A TRILHA SEM GUIA, é praticamente impossível fazê-la sem experiência e sem saber usar o GPS. Outro cuidado essencial é com o transporte de água em quantidade. Não recomendamos fazer a trilha no período da seca e nos meses chuvosos deve haver atenção redobrada na travessia dos Rios e Ribeirões.

Por Cleber Afonso, Fernanda, João Carlos e Orlando

2 comentários:

  1. Parabéns pela expedição muito bonita mesmo a região que foram!! Fiquei curioso com o detalhe da falta de água e das chuvas ao mesmo tempo, não hove meios de captar essa agua?
    Tenho algumas expedições remotas tb, algumas marcadas com os tracklogs, vamos se comunicar...

    Grande abs
    Daniel
    danielbrasilis@gmail.com

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  2. Oi Daniel,

    Passamos todo o 2º dia da travessia sem encontrar fontes de água. Daí a dificuldade que relatamos. Só choveu no finalzinho da tarde, depois de passarmos por umas pedras com alguma água acumulada. Recolhemos água com uma lona plástica usada para nos protejermos.
    Abraço,

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